quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O VELHO CHUCK CONTINUA MANDANDO BEM!


Dia desses zapeando pela TV me deparei com o filme Chuck Berry Hail! Hail! Rock’n’Roll, de 1987. Lá estava a grande legenda do Rock ‘n’ Roll, em sua cidade natal, Saint Louis, retratado no documentário musical de Taylor Hackford. Peguei o documentário da metade para o fim, mas mesmo assim já foi um grande deleite. 

Entrevistas com outras feras com Bo Diddley, Little Richard, Roy Orbison, entre outros, vão passando um pouco das histórias e da personalidade dessa figura ímpar. No palco, outros nomes que continuam fazendo historia como Keith Richards, Robert Cray, Etta James, todos bem mais novinhos – é claro, na medida do possível - afinal lá se vão mais de 20 anos. A performance de Eric Clapton interpretando um blues cadenciado, onde demonstra o seu domínio do instrumento, mostra porque surgiu a expressão Eric is God.

Mas o que realmente me chamou a atenção foi o fato de ver a performance de Chuck no palco, junto de todas aquelas feras, mostrando primeiro que sua música é atemporal e depois pelo fato de ver que já há muito tempo ele entendeu que menos é mais, a exemplo do arquiteto e líder do movimento Bauhaus, Ludwig Miers van der Rohe, uma máxima que nos dias atuais virou moda. Com suas construções harmônicas básicas, simples, ele consegue eletrizar quem está do outro lado, mostrando que a música não vem do encadeamento de acordes e sim da alma de quem a cria.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

CONTO - O MAIOR CORREDOR DE TODOS OS TEMPOS


Ele nasceu em uma casa simples de um bairro da periferia de São Paulo. A família Átona morava em uma casa modesta do Tucuruvi, na Zona Norte. Benjamim Átona tinha uma vida pacata e trabalhava como encarregado geral em uma fábrica de parafusos. A sua mãe, Mariângela Átona era a típica dona de casa da classe média baixa, sem muitos sonhos, sem muitas ilusões, dedicando todo o seu tempo para cuidar da casa, do marido e dos filhos. Uma mãe carinhosa, dedicada e sempre preocupada em dar o melhor de si para servir a sua prole.

Ele era o quarto filho que vinha ao mundo. Quando nasceu chorou muito, como se essa ocasião tivesse interrompido algo muito bom que ele estava vivendo. Ainda havia uma certa indecisão quando ao nome que ele teria e muitas apostas foram feitas. Mas quando ele veio pela primeira vez para o quarto da mãe e seus pais puderam contemplar aquele ser pequenino que se espreguiçava a todo o momento, forçando os olhos para poder ver alguma coisa, não tiveram dúvidas. Pela sua constituição, seu biótipo singular, com pernas longilíneas, resolveram batizar o rebento de Osmar. Assim nasceu Osmar Átona, um personagem que iria fazer história no atletismo mundial.


Teve uma infância normal, como toda a criança de bairro, jogando bolinha, brincado de pião, andando de carrinho de rolimã, jogando futebol na rua, correndo atrás de pipa e de balão, só que nesses casos sempre chegava antes.


Já na escola começou a se destacar pela sua pressa. Sempre chegava antes em todos os lugares. Na sala de aula, no pátio do recreio, nas atividades extracurriculares. Nas aulas de Educação Física se destacava nas atividades que envolviam o deslocamento de um ponto para outro. Ninguém superara Osmar nas corridas ou em qualquer atividade que precisasse preencher um trecho com rapidez. Seu professor de Educação Física, Heitor, logo percebeu que ele era uma criança diferenciada e que precisava de um tratamento especial. Passou a orientá-lo com seus parcos conhecimentos de atletismo, o que já foi suficiente para despertar aquela chama interior que começava a arder dentro do Osmar.


- Se você quer ser alguém na vida, meu filho, corra! Corra o mais que você puder!

Os anos foram passando e Osmar Átona começou a se destacar no circuito escolar. Toda corrida que participava pela sua escola, ganhava sempre. E com uma grande vantagem sobre seus adversários. O garoto parecia um raio, ninguém chegava nem perto dele.


Sua mãe, sempre atenciosa e carinhosa com o filho caçula também passou a incentivá-lo.


- Se você quer ser alguém na vida, meu filho, corra! Corra o mais que você puder!


Quanto mais o tempo passava, Osmar cada vez mais ficava conhecido no circuito de corridas da cidade. Na adolescência, chegou a ganhar mais de 300 medalhas de ouro. Muitos atletas de outras escolas, quando viam que o Osmar estava inscrito na competição, desistiam pois já sabiam que não teriam chance diante daquele fenômeno.


Ao chegar ao curso superior, conseguiu uma bolsa de estudo para Educação Física, principalmente pelo seu grande currículo de conquistas. Em seguida foi procurado por um grande clube e por três empresas interessadas em patrocinar tamanho talento. Osmar pensou “meus sonhos estão se realizando! Graças a essas minhas pernas abençoadas, vou conquistar tudo a que eu tenho direito.”


Sua mãe, que sempre acompanhou sua trajetória e vibrou por suas inúmeras conquistas, não cansava de repetir:


- Se você quer ser alguém na vida, meu filho, corra! Corra o mais que você puder!


Um dia Osmar resolveu se profissionalizar e passou a competir em pé de igualdade com os chamados atletas de elite. Seu primeiro desafio foi correr na maratona Nike 10 K. Não deu outra, Osmar deixou os adversários comendo poeira. Em seguida, veio a meia maratona do Rio de Janeiro, a maratona de Nova York, corrida da Pampulha e muitas outras mais. E em todas as ocasiões , Osmar deu um show. Parecia que com o passar do tempo, sua preparação física, seu fôlego, ficavam cada vez melhor.

Com a chegada do final do ano, mais um desafio, a Corrida de São Silvestre, a única que ainda não contava no seu currículo, onde teria que enfrentar o favoritismo dos atletas quenianos, além das grande feras nacionais. Osmar se preparou e colocou na sua cabeça que iria ganhar essa competição. No dia da corrida, muita expectativa, os principais noticiários faziam suas apostas nos grandes nomes, deixando Osmar para segundo plano. Mas era por pouco tempo. Logo, logo seu nome iria ganhar as principais manchetes do final do ano. Osmar não só venceu a São Silvestre como bateu o recorde de tempo, melhorando em três minutos o menor tempo já obtido na prova.

Depois desse dia, o céu era o limite para Osmar. Ele podia tudo. Começou a ser chamado para as principais competições internacionais, faturando todas que participou. Os jornais internacionais estampavam seu rosto, com frases do tipo Osmar, o fenômeno das maratonas, mais conhecido como Osmaravilha!


Mesmo com toda essa fama, Osmar Átona continuava uma pessoa simples, com os mesmos valores do tempo que corria atrás dos balões capuchinho no Tucuruvi. Nunca se esqueceu de sua família e sempre que podia, quando ganhava um bom prêmio, mandava um adjutório para seus pais e irmãos.


Todo esse talento não podia passar desapercebido pelo COB – Comitê Olímpico Brasileiro – e não demorou muito para que Osmar fosse chamado para representar as cores de nossa bandeira em uma Olimpíada. Sua família se encheu de orgulho, na seção onde o seu pai Benjamim ainda trabalhava, todo mundo comentava a “convocação” do Osmar para participar da Olimpíada.


Era o único título que Osmar ainda não tinha e ele estava mais do que preparado para conquistá-lo. Estava em sua melhor forma, com sua confiança lá em cima. Para ele seria muito fácil, afinal, já havia conquistado duas maratonas de 40 quilômetros com uma boa vantagem sobre seus adversários.

No grande dia Osmar não titubeou. Saiu em disparada, mantendo a ponta. Os comentaristas esportivos falavam que ele era o conhecido “coelho”, que sai na frente, gasta toda a sua energia e depois vai sendo ultrapassado pelos atletas mais experientes que vão dosando sua velocidade para ter gás até o fim, guardando energia para o Sprint final.


O grande erro é que esses locutores não conheciam muito bem o Osmar. E por não conhecê-lo, julgaram que não passaria muito tempo ate que ele abrisse o bico. O que aconteceu foi justamente o contrário. Aqueles que conheciam Osmar muito bem não se surpreenderam. Ele manteve a dianteira do começo ao fim da prova e mais uma vez bateu o recorde das Olimpíadas, estabelecendo um tempo jamais imaginado por qualquer expert em corridas de maratona.


Osmar tinha entrado para a história como o maior corredor de todos os tempos. Mas depois das Olimpíadas, começou a acontecer algo estranho com o Osmar. Um grande vazio se instalou no seu peito e ele já não via mais motivação para correr. Nada mais o agradava. Um grande desânimo estava se abatendo sobre ele. Correr mais rápido que seus adversários já não era mais novidade, não trazia mais satisfação, não era mais desafiador, afinal, havia superado todos os adversários que enfrentou.


Foi então que ele viu que havia chegado a hora de mudar o rumo de sua vida.
Ele já tinha fama, já tinha dinheiro. O nome Osmar Átona virou sinônimo de corrida. Agora ele queria sossego. Pensou muito e tomou uma decisão. Procurou um especialista em árvore genealógica, pesquisou em bibliotecas, pois queria achar uma solução para aquela sua sina, que estava impregnada em seu nome. Ele precisava se livrar daquilo de qualquer forma.

Depois de muito pesquisar, encontrou o que queria em um de seus antepassados, o sobrenome de um tataravô por parte de pai de quem nunca havia ouvido falar.
Juntou todos os documentos, pegou um bom advogado e foi até o cartório onde foi registrado quando nasceu.
Mudou o seu nome para Osmar Asmo, pendurou os tênis de corrida, deitou-se em uma rede em seu sitio no interior de São Paulo e viveu feliz para sempre.

Assim termina a saga de Osmar Átona, o maior corredor de todos os tempos, hoje conhecido nas cercanias de Ibiúna como Osmar Asmo, um sujeito preguiçoso que gosta de ficar o dia todo na rede ou sentado em um tronco no quintal de seu sitio, sem fazer absolutamente nada, vendo as tardes quentes e modorrentas passarem vagarosamente.