domingo, 27 de julho de 2008

MINI CONTOS URBANOS - II


O Buraco da Barata

Ele entrou e começou a olhar pelos cantos, meio perdido. Suas roupas, seus adereços, seu modo de andar e agir, denunciavam a sua origem.
Onde que desce…cadê?…ôxe...
- Amigão, não é aqui, não…você tá no bar errado. É aquele ali do meio, ó.

Ele foi até lá. Estava ansioso para descer. Chegou e foi logo perguntando “é aqui o buraco da barata?” . A moça do balcão indicou a escada num dos cantos do bar.
- Pode descer que o forró tá rolando…

Ele mais do que depressa desceu as escadas. Seu nariz respirou o cheiro acre, abafado, cigarro misturado à umidade do porão. Um ar familiar que reconfortou o seu coração. Lembranças. Pouca luz, som alto, alguns pares dançando no salão.

Seus olhos demoraram alguns segundos para se acostumar com o ambiente. Faces mau encaradas, semblantes tensos, rostos desgastados pelo tempo. Foi até o balcão e pediu uma branquinha. Bebeu numa talagada só.

Ela estava lá, sozinha no canto, o ar perdido, olhando para o globo de luz. Colocou sua melhor roupa, caprichou na maquiagem e no perfume. O reencontro prometia. Havia tempo que estava na espreita, com as antenas ligadas, no canto, esperando o seu momento.

Ele a viu, se aprumou e foi se aproximando como quem não quer nada. Foi arrudiano e sussurrou algo no seu ouvido. Ela sorriu. Ele a puxou e levou para o meio do salão. Dançaram em meio ao cheiro de suor que se misturava aos perfumes baratos usados sempre de forma exagerada.

A Ema gemeu no tronco…enquanto o forró comia solto, com o baixo da sanfona marcando o ritmo junto com o triângulo e a zabumba, ele pensava que o emprego na obra veio em boa hora. Com a graninha que ia entrar agora, já podia levar a Dinalva pra morar com ele.

- Vamo Zé, já tô cansada..
- Vamo pra onde, muié?
- Pra sua casa, ôxe…

Ele abriu um sorriso e entendeu o recado. Sabia que a sua hora tinha chegado e que finalmente iria sair daquele buraco.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

APOCALIPSE NOW


De acordo com as profecias de Nostradamus ou mesmo as referências contidas na Bíblia, a humanidade já deveria estar extinta. Como ainda estamos habitando este planeta azul que a cada dia se torna mais cinzento, estamos no lucro.

Que passamos por uma crise é inegável e o novo arauto do apocalipse é o calendário Maia, que diz que o planeta Terra vive o final de um grande ciclo que termina em 2012. Na tradição Hindu dos Vedas também há essa previsão. Os reflexos são a falta de tempo, o desenvolvimento acelerado dos processos tecnológicos que ficam obsoletos tão rápido quanto são alcançados, a violência nos grandes centros urbanos, a desigualdade social, a intolerância religiosa, o terrorismo, que coincidem com o final de uma espiral evolutiva. Mas a profecia Maia não se trata do fim do mundo e sim da RENOVAÇÃO do mundo. Fim e Renovação são muito diferentes e ninguém vai morrer, nem o mundo vai acabar.

Em sua música “Sociedade Alternativa” datada dos anos 70, Raul Seixas sinaliza que esse tempo chegaria, baseado nos textos do escritor ocultista britânico Aleister Crowlei. Um modo de vida alternativa, uma visão alternativa que compreende um novo tempo.

Um dos indícios mais marcantes dessa transformação que está por vir é a aceleração do tempo. Segundo pesquisas, a aceleração do tempo está encurtando os nossos dias em torno de 50%, em função do aumento da freqüência vibratória do planeta Terra. A sensação psico-mental que temos é de cerca de 12 horas, mas na verdade é equivalente a 24 horas, de onde vem aquela sensação de que o tempo está passando muito rápido, que não dá mais tempo para terminar tarefas que antes podiam ser feitas em tempo menor.

A vibração planetária começou a acelerar a partir de 1971 e hoje está em 33 ciclos por segundo e um dia que tinha 24 horas passa a ter somente 13 horas e 12 minutos. Mas e os relógios? Por que não marcam essa diferença? Todas as pessoas recorrem ao relógio e constatam que não há nada de errado com o tempo. A sensação de que o tempo está passando rápido acaba sendo encarada como ilusória. O relógio mede a duração do tempo e como ele mediu 24 horas exatas na virada de um dia para o outro, inclusive com as referências do dia e da noite, nada está errado, tudo não passa de falsa impressão.

Alguns místicos afirmam que o tempo, nesse início de século está andando mais rápido, porque a Terra está girando em torno do seu eixo imaginário com maior velocidade. Afirmam também que as partículas subatômicas estão vibrando numa freqüência maior e que o nosso planeta já está a meio caminho da quarta dimensão.

A explicação “física” para os relógios é que se a Terra está girando mais rapidamente, isso afeta a gravidade e, por conseguinte, o mecanismos dos relógios automáticos que funcionam em fórmula de pêndulo, ficando mais leves e, consequentemente, mais rápidos, compensando o tempo. O mesmo fenômeno acontece nos relógios eletrônicos e nos atômicos, que são constituídos de materiais susceptíveis de alteração com a aceleração das partículas subatômicas. Daí, conclui-se que os relógios estão nos dando uma informação que é relativamente correta, porém absolutamente falsa. O descompasso entre as nossas atividades e o tempo disponível é o maior indicativo desse fenômeno. Ninguém consegue acelerar sua capacidade de trabalho para acompanhar a aceleração do tempo que é contado nos relógios. O nosso lado esquerdo do cérebro, tão cheio de razão, não consegue com sua lógica entender o que está acontecendo. A nossa percepção de que algo está errado é aguçada pelo hemisfério direito, onde reside a intuição, a criatividade, as emoções.

Quem tem filhos pequenos e adolescentes pode observar esse fenômeno da aceleração no comportamento deles. As músicas que ouvem são cada vez mais aceleradas, marcadas pelo “bate estaca”, fazem cinco coisas ao mesmo tempo, como se tivessem conhecimento de que o “tempo” está sendo roubado. Eles procuram aproveitar ao máximo essa nova realidade e abrir os campos da percepção e absorver tudo o que o universo está oferendo. O fim desse ciclo, que segundo as últimas profecias acaba em 2012, deve levar à renovação, um apocalipse diferente daqueles profetizados desde o início dos tempos. As gerações que estão nos substituindo poderão ter uma nova perspectiva, uma nova dimensão para viver, diferentemente da que vivemos até hoje.

sábado, 5 de julho de 2008

MINI CONTOS URBANOS - I



No Farol

Faltavam quinze minutos para a nove da manhã. No dia anterior tinha chovido bastante e o céu estava bem limpo, com o Sol aquecendo a manhã. Eu subia a Campinas em direção à Paulista. Não costumo fazer esse caminho, a Paulista está sempre cheia, ainda mais agora com as reformas das calçadas e do canteiro central.

Chegando no cruzamento da alameda Santos, o farol fechou. Diminuí a velocidade e parei bem rente à faixa de pedestre. Algumas pessoas atravessavam na faixa apressadamente. De repente percebi a sua presença.
Ele vinha andando com um ar desconfiado, olhando de soslaio para os lados. A camisa larga fora da calça conseguia disfarçar um pouco o volume que ele trazia na cintura.

Ele veio em minha direção. Logo percebi o que estava para acontecer. Meus batimentos cardíacos aceleraram, uma descarga de adrenalina inundou o meu corpo. Ele colocou a mão debaixo da camisa e empunhou a arma, apontando-a para a minha cabeça pelo lado de fora da janela do carro.

O som estava um pouco alto e não conseguia identificar exatamente o que ele vociferava do lado de fora. Seus olhos estava injetados.

- A carteira…. passe o relógio… rápido, rápido…vou te apagar…filho da puta…tem seis aqui pra você…

Minha boca secou. Fiquei sem ação, com as mãos no volante, esperando. Aqueles segundos pareciam uma eternidade. Ele continuava a falar, insistindo até perder a paciência.

O primeiro disparo veio acompanhado de vários palavrões.

- Pou!
- Toma um pipoco seu desgraçado…
- Vou te matar…filho da puta…
- Pou! Pou!

O sinal abriu. A blindagem da janela resistiu bem aos três disparos. Ele saiu em disparada. Acelerei o carro e segui em frente. Agora preciso arrumar um jeito de blindar os olhos também.