
Incompatibilidade
“Sim” ele disse.
“Não” ela disse.
“Sim” ele tornou a dizer.
“Não” ela tornou a dizer.
E nesse “disse-me-disse”, disseminou-se um tremendo mal-estar. Já havia um tempo que as coisas não andavam bem. Uma disputa silenciosa se travava entre os dois, ninguém queria ceder. Foi então que veio o dilúvio e inundou toda a terra. Eles nadaram até a exaustão, cada um prum lado, é claro.
“A terra firme é por aqui”.
“De jeito nenhum, fica pra lá!”.
E os dias foram passando e a água não baixava. O relacionamento naufragava pouco a pouco. Neste dilúvio de incertezas, a única coisa que restava era a teimosia de cada um. Por mais que tentassem se entender, o orgulho era maior. Humildade não fazia parte do vocabulário de nenhum dos dois.
“A vida não é assim como você imagina, não”.
“Você é que pensa!, eu sei do que estou falando”.
No jogo de empurra, cada um tentava colocar no outro a culpa pela intransigência, pelo fracasso, pela frustração. Ninguém queria assumir que bastava olhar no espelho para ver a verdadeira face da derrota. Ela estava estampada no rosto de cada um deles.
Caminhos para reverter essa situação já haviam sido tentados, mas sem resultados. O que os dois mais temiam era a sensação de incerteza e de perda do controle sobre as coisas mais corriqueiras. Queriam dar vida e significado a tudo o que faziam e diziam, como se daquela disputa caótica pela “razão” fossem obter a glória, a vitória sobre o outro de forma irrefutável.
Uma trégua, alguns dias de calmaria e por fim…
“Sim” ela disse.
“Não” ele disse.